segunda-feira, 25 de março de 2013

Sessão das 11

 Les Misérables
Talvez por não ter depositado expectativas nenhumas no filme se tenha tornado uma surpresa muita positiva. Foi a primeira vez que vi a história, e nunca li o livro do Vitor Hugo e fui apanhada completamente de surpresa.
Gostei muito, gostei da força de vontade de um homem, gostei de ver a força do perdão e da confiança na vida de um homem, gostei de ver a força de um povo, a força da liberdade e a força de uma luta colectiva, tudo isto temperado com duas histórias de amor pelo meio, a capacidade de um pai amar a sua filha ainda que não seja de sangue, e a história de um amor à primeira vista :)
Um dos meus momentos preferidos do filme nem é nenhuma das cenas mais emblemáticas é uma das cantorias e a cena em si aquando do funeral do Jean Maximilian Lamarque e que marca um dos momentos de reviravolta no filme.
O desempenho dos actores de um modo geral é muito tocante e, apesar de ainda não poder comparar com o desempenho das outras nomeadas, a atribuição do óscar à Anne foi pertinente.  
 Surpresa das surpresas, Les Misérables era um musical com todos os ingredientes para me deixar a  chorar do inicio ao fim tal qual uma Amélia arrependida e pouco ou nada chorei, arrepiei-me algumas vezes, mas chorar não... Talvez seja efeito das cantorias, porque se há quem chore e bem com histórias emotivas sou eu, e Los Miserables foi das histórias mais emotivas que vi nos últimos tempos.
Mantendo-me coerente em relação à opinião que tenho dos musicais, não posso dizer que foi dos meus filmes preferidos (se não tivesse tanta cantoria começo a achar que teria outro impacto), posso colocá-lo no topo dos meus musicais preferidos :)

The Pillars of the Earth
Dos filmes para as séries Os Pilares da Terra é uma série edificada à medida que é construida uma catedral, e se à partida seria um processo com tudo para ser simples, não é de todo isso que se verifica. São oito episódios em que no fim de um, só apetece ver o seguinte.
Uma história de lutas pelo poder, de pecados e virtudes de homens e mulheres, tendo como pano de fundo a guerra, quer em campo de batalha quer nos bastidores pelo trono inglês. Uma história de lealdade e da falta dela consoante as necessidades e os propósitos de alguns. Traições e paixões, algum romance e muita violência no modo cobarde como algumas personagens actuam, não olhando a meios para atingir os fins. 


Revenge
 "Quando pretender embarcar numa vingança, cave duas covas", é esta a frase de Confúcio que dá inicio ao primeiro episódio  de Revenge. Uma série cujo tema o próprio nome indica, vingança! Se alguém que se ama muito fosse acusado injustamente de algo, até onde se iria para obter justiça? Até onde se iria para vingar a memória de alguém? 
A linha que separa a vingança da justiça é muito ténue. 
Quando o sentimento que move alguém é de vingança, de ódio por muita que seja a sede e a razão de justiça até que ponto o que se tem a perder não é mais do que o que se tem a ganhar?
É uma série com um fundo bem cor de rosa e cheia de festas de alta sociedade, vestidos bonitos e gente gira mas que em simultâneo me tem deixado a pensar numa série de questões. 
No que toca à vingança penso que a parte mais difícil é perdoar, até porque em determinado momento "se alguém quer entrar num ninho de víboras tem de ser como elas para sobreviver" e qual o tamanho do risco de passar a ser exactamente como as pessoas que se abominam?

terça-feira, 19 de março de 2013

PAI

Todos os dias és Pai! Mas hoje o celebramos e hoje é para ti este dia. Pai foi sempre o porto seguro, o ensinar, o dar carinho, o repreender que também faz parte e fundamental no desenvolvimento e crescimento... Gostava de estar mais inspirada neste dia tão especial para ti e para nós filhos, para tecer palavras à altura deste dia, mas a inspiração tem andado meia bloqueada por isso as palavras saem simples com a leveza de um gostar, de um amar, de um respeitar constante. De um modo geral gosto da mulher em que me tornei e foste fundamental neste crescer nesta transformação.
Se tivesse de pedir perdão por alguma coisa, pediria desculpa pelas doses de insolência que aprendi a controlar com o tempo... E pediria desculpa por te ter magoado em algum momento, por não me ter feito compreender. Mas mais do que coisas a pedir desculpa o que há mais a tecer são agradecimentos!
Dizem que são os filhos que escolhem os pais, eu fui muito feliz na minha escolha e sou-te grata por tudo! 
Até por teres guardado aquelas proteções de garrafas tão feias, fruto da falta de jeito para trabalhos manuais que cedo se revelou, que fizemos no dia do pai há muitos anos atrás, que ainda que estejam lá no cantinho meio discreto e mais recôndito estão lá, a envolver duas garrafas de vinho :)
E é em jeito de cartão de dia do Pai desses tempos que digo segura das minhas palavras e sem qualquer sombra de dúvida, és o melhor Pai do mundo!


















Segurando essa criança
que a seu tempo veio ao mundo,
amparando todo o seu ser
com mãos de veludo,
nesse dia em que nasci
e te tornaste PAI
pela primeira vez...
carregaste a esperança
de uma nova vivência
de um novo entender
Carregaste pela primeira vez
a tua própria existência!
Tenho uma certeza,
um pouco arrogante,
que todo o teu
mundo mudou! 
E viria a mudar
por mais duas vezes!
Somos filhos
bafejados pela sorte
por te ter como PAI!


Um Feliz dia a todos os pais!



 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Conchas

São conchas tantas as conchas, de que disponho. Confortáveis no seu frio seco que impele ao pensamento, ao isolamento ao tempo de introspeção. Também sinto por vezes que criam barreiras e gelam as acções numa incapacidade ímpar de agir. 
São minhas tão minhas como só o meu próprio ser o é. São pontes para projectos, para as ideias, para os sonhos...  
É o meu espaço onde me reinvento e renovo. É a minha concha.


Era uma vez uma menina que encontrou uma concha... 
Tomou-a como sua...
E nunca mais a largou...

quarta-feira, 6 de março de 2013

Estranha forma de amar...

A Inês conheceu o Diniz numa noite quente de Verão quando orgulhoso o povo utilizava o símbolo da selecção na lapela e se vestiam e revestiam com vermelho e verde da bandeira, a única altura em que isso acontece, no restante tempo é parolo, ainda que utilizar bandeiras de outros países e nomes na roupa seja algo muito trendy  e super fashion, mas não divaguemos, esse foi o cenário em que eles se conheceram, e e se aproximaram e se entre olharam com sorrisos trocados. Uns dias depois quando Inês estava em casa sentada à janela virada para a foz do Douro, hábito que ela tinha e de que tanto gostava, com o luar ao fundo ele beijou-a... Estavam apaixonados. E tudo eram flores, era um doce de homem, um doce de mulher feitos um para o outro... As flores vêm com algumas restrições, mas o principal é que tudo eram flores. Começou com coisas simples como, "Porque colocas tanto Nestum no leite? Não coloques tanto Nestum" ao que ela respondia "porque eu gosto assim", mas quando dava conta já comia o seu Nestum com leite como ele queria que ela comesse. Sem que se apercebesse, os seus amigos eram os dele. Bem amigos é uma forma de dizer. Sem que se apercebesse um dia permitiu que ele atendesse o seu telemóvel com uma chamada de um amigo um pouco tardia, nove da noite, a desancá-lo a humilhá-lo porque aquilo não eram horas de ligar para a sua namorada, este sua namorada estava  tão carregado de sentimento de posse... sem que ela se apercebesse. Este amigo nunca mais lhe falou! Sem que se apercebesse estava proibida de falar com homens excepto se fosse estritamente necessário, porque toda e qualquer conversa de circunstância era para ele um flirt, uma potencial traição. Mas tudo eram rosas e valia a pena lutar por aquele amor(??).  
Sem que ela se apercebesse ele seguia-a até à faculdade quando ela dizia que não valia a pena estar a levá-la.
Sem que ela se apercebesse tudo eram chantagens, términos de namoro vários à mínima falha(?). Ela chorava compulsivamente a implorar-lhe que ele não partisse a prometer que ia ser melhor, que iria ser exactamente como ele queria que ela fosse, mas que não a deixasse por favor e ele ficava... O seu objectivo não era nunca deixá-la, apenas chantagem emocional. Mas tudo eram rosas.

Um dia, nesse dia, nesse inicio de noite ela recebeu uma chamada que durou meio segundo, aquilo que se chamavam toques muito em moda nessa altura, de um número privado e mostrou-lhe, furioso queria ficar-lhe com o telemóvel, a Inês agarrou o telemóvel com tanta força contra o peito como se de agarrar a sua dignidade se tratasse,  ele empurrou-a, ele agarrou-a com toda a força pelos braços, pelos pulsos, ela chorava e não desistia, ele furioso gritava "vou ficar com isso!" e ela respondia "não, não vais!". Nessa noite ela saiu. No dia seguinte contemplou as nódoas negras nos pulsos, nos braços nos ombros... Quanta força foi precisa para fazer tamanho estrago? Era frágil e ficava com nódoas negras facilmente mas nunca se tinha observado assim...

Dois dias depois ele ligou, precisava de estar com ela, pediu desculpa, ela disse que precisava de mais umas horas e pediu para ir ter com ela à noite, facto que o deixou furioso sem que ela se apercebesse. Ela reflectiu e  subitamente estava cheia de vontade de rever o seu amor, o que iríamos fazer naquela noite maravilhosa de reconciliação? Cinema Jantar? Mas o cenário que ela encontrou foi outro, o seu olhar de olhos negros e profundos feito, que era tão meigo na maioria do tempo estava enevoado de raiva "Porque é que só quisestes estar comigo agora a noite? Estavas com alguém não estavas?"   Palavras que deram o mote à discussão, feia por sinal... Ao primeiro pronunciar dele "Olha que eu assim deixo-te Inês" ela disse... "Para mim basta! deixa-me em casa..." Ele furioso disse "Para ti basta? Para mim é que chega! Vou deixar-te sim longe de mim que já não te posso ver!"...

Esse basta não foi suficiente para evitar as primeiras e tentadoras tentativas dele de uma reconciliação, nem as ameaças e insultos anónimos que se seguiram face as negas... Mas foi a primeira libertação dela! 
Num relacionamento, deve haver respeito mútuo e devem sim dar-se satisfações, mas nenhuma mulher é propriedade de algum homem, nem nenhum homem é propriedade de nenhuma mulher.

Um dia pulsos negros e nódoas negras nos braços... E a seguir? O que viria?
(História fictícia, qualquer semelhança com factos,
 pessoas ou acontecimentos é mera coincidência)


Que situação estranha é a violência no namoro e em qualquer altura, que estranha forma de amar...
Uma vez ouvi, de uma mulher muito sábia e com uma vida longa: "rapaz que não te trata bem no namoro, nunca te há-de tratar bem. Se não te trata bem para te conquistar vai tratar-te bem depois de te ter?"

Hoje não é dia mundial, nem nacional nem municipal contra a violência doméstica, hoje é o dia em que deve ser combatida, tal como nos restantes... Amanhã pode ser demasiado tarde.

Porque há muita Inês, Dinis, Joana,  Pedro, Ana, Afonso, Lurdes... Que se calam! E às vezes... É para sempre!



Stop violence against everyone!

Que se acabe a violência contra todos!



Também não farias anos hoje, nem faz anos que passámos semanas maravilhosas de férias de Verão, também não faz anos que te foste, hoje é um dia como outro qualquer... Em que guardo e recordo o teu sorriso, a última recordação que tenho de ti antes que a tua vida fosse ceifada por quem dizia que te amava, e que queria casar contigo.

sábado, 2 de março de 2013

Levava um jarrinho

Andava ela com o meu livro do segundo ano de um lado para o outro, e disse-me "Mana faz-me um ditado de um poema do teu livro", peguei no livro encadernado pela minha mãe com papel simples, reconheci o cantinho cortado a tesoura, cortesia do meu irmão naqueles tempos, motivado por uma qualquer briga e um método eficaz de me deixar severamente irritada tendo em conta o modo meticuloso com que eu tratava os meus livros escolares. Desfolhei um pouco e perdi-me a olhar os textos, os desenhos as adivinhas, os provérbios as questões que lhe preenchiam as páginas... Fui acordada pelo seu olhar impaciente "Então mana, anda lá escolhe um poema para me fazeres um ditado", não tive dúvidas em escolher aquele que foi o primeiro poema que decorei de um modo tão natural como se bebe um copo de água, cada palavra foi memorizada até hoje, sem que tivesse de o fazer, fixei-o porque o li tantas vezes que a minha memória fez questão de o reter, e pela primeira vez reparei que era da autoria de Fernando Pessoa... Tão simples e tão complexo em simultâneo como só ele sabia ser...

Levava eu um jarrinho
Para ir buscar vinho
Levava um tostão
Para comprar pão:
E levava uma fita
Para ir bonita.

Correu atrás
De mim um rapaz:
Foi o jarro para o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-e a fita...
Vejam que desdita!

Se eu não levasse um jarrinho
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
Para ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia.

Fernando Pessoa